Linda Martini - Estuque

Olhas como através de mim,
cada fissura,
imperfeição.
Olhas como eu não estivesse aqui e fazes-me duvidar se tens razão..

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

"Não fujas de mim"

Olha os olhos abertos,
Cheios de fome
De olhos amarelos
Cobertos de nada.

E o medo que se instala sobre nós
Não deixes a névoa passar.

Não fujas de mim

E de como o sono,
Corta-me os pulsos
Mostrando
O sangue brotar
Em pesadelos,
Devorantes.

Não fujas de mim

Sofres de uma alegria falsificada,
De nós de línguas
Cheias de vazio;
Opacas.

Um vivo beijo devorante
Que deseja da imensidão
De nós,
Brotar.

Mas,
Não fujas de mim

Palitas os dentes
Cheios de sangue
Saboreando os meus olhos
Rios,
De tinta vermelha.

Olha-se como sonho
Derramado
Em gotículas
Torradas e infelicidade.

Não tenhas medo de mim.

Queimo-me
Nos teus cabelos ruivos
De fogo veludo
E, a minha garganta
Arde como,
Labaredas provocadas pelos bicos
De fogões apagados

Não fujas de mim

Peço-te um copo de água
Gelado.
Querendo a minha garganta,
Atenuar
Talvez queime o frio
Talvez
Queime o diabo
Dentro de mim.

Mas não fujas de mim

1 comentário:

João Brecht disse...

Mais uma poeta sem rima, somos poucos os que ainda resistimos ao comercialismo de versos sonantes.
Entrei no teu blog ao acaso e quando comecei a ler pensava tratar-se de um poema "emo" a falar de pseudo vontade de morrer, mas fui-me apercebendo que o texto está ligado a algo maior, se por um lado queres que o ódio desapareça, por outro sabes que é ele que te faz mais forte. Deixaste-me a pensar...
Não vejas a morte como algo necessáriamente mau, a morte pode ser o fim de um cíclo e o início de outro! É o facto de a vida ter um prazo de validade indefinido que a torna interessante!

Tenho andando afastado desta história dos blogs, coicidência encontrar um com bom conteúdo logo no principio :)

Um beijo,
João Brecht
Che_caneco@msn.com