Linda Martini - Estuque

Olhas como através de mim,
cada fissura,
imperfeição.
Olhas como eu não estivesse aqui e fazes-me duvidar se tens razão..

sábado, 31 de janeiro de 2009

Arrastanto o seu cadáver

Arrastando o seu cadáver,
Pelas lajes infernais
O nevoeiro,
Abrasou-me o rosto,
Transfigurado pela aquela doce tentação
De te matar, novamente.

(Mas mata-me novamente)

Ergue-se de entre o céu maligno
Todos os passos sórdidos dos vivos
Os deambulastes;
Os mortos que se julgam vivos,
Nesta ânsia de morrer
Dumas névoas,
Em que não passa ninguém.

Todos os punhos cerrados,
Sobre sua face
E seu singelo tacto
Petrificado de ódio
Encarna a crise romanesca
De onde nunca sai;

(Mas sai de dentro de mim)

Todo aquele sangue derramado,
Por entre as lajes do eterno sofrimento
Cria-se aqueles sorrisos falsos e
Subjugados de beleza humana
Teu cadáver!
Teu cadáver!
Oh santo martírio em que vivo,
Afoga-me este pesar de viver,
Que me provoca um estranho prazer.

Mas
Levanta-te novamente e fica comigo
Não te quero matar novamente,
Não morras novamente.
Não desapareças

(Desaparece!)

Oh querida!
Destroçada e ferida,
Ainda pesas mais depois de morta
Nos meus braços miúdos,
Desejo-te lamber as entranhas

Com as figuras sepulcrais
De mornas tentações
Deténs o meu temperamento inalterável
E o desejo absurdo de te amarrar nos portões
Dos meus punhais,
E sorrio perante ti,
Com o nosso eterno amor, afável.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Extravagâncias

De todo o mal do mundo
Caído ante teus pés,
Vejo infortúnio
A irradiar de ti
E um punhal
A fechar-se sob meu peito
E caídas lágrimas
Que me queima,
Antes de me tocar
Por belas
E singelas faces,
Vejo um lago de podridão,
Imitando uns bons desenlaces
Criando inspecções
Sussurrando nos túmulos,
Afagando a neve que teima em me enterrar;
O inverno denso e perfumado,
Esconde entre as lajes de um amor perdido,
Uns escritos
Segredos de um amor maldito.

domingo, 18 de janeiro de 2009

É...

É…
De entre raios de luz supérflua
E de sóis narrados de impurezas orgânicas,
E tristes luas a colocarem-se,
Num céu que não mais se abriu
Existem dentes brancos,
Atrás das ramagens entediantes.

E o suave murmurar,
De umas ondas a navegar,
Por entre a saliva da minha boca,
E os densos caracóis, do meu pescoço fundido em dois;
Deixas-me rouca, de
Voz invisível
De nunca te ter visto perante meus olhos.

Olha para mim,
E enlouquece-me com subtilezas amargas,
Para depois me deixares só,
Amargurada e sem ninguém.

Não te dês, perante ninguém.
Espera por mim.
Oh! Eterna luz, de nívea face
Ando em pura contradição ambulante,
Escrevendo no vazio,
Tudo o que queria fazer contigo.
É… tudo o que me parece surreal, quando sonho contigo.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Funeral

Quando eu morrer,
E no meu funeral
A marcha nupcial ecoar,
Quero que te lembres de mim,
E de todas as traições que pratiquei
Só para te magoar.

De todos os sofrimentos causados,
Quero que estejas lá para ver,
Todas as tábuas
Que ainda faltam pregar,
E o meu rosto,
A ser levado pela brisa do martírio;
O nevoeiro de um pó
Em que me irei dissolver.

E ai chorarás eterno fogo
E lembrar-te-ás do cabelo ruivo
Que ao entardecer
Soltava no teu espírito,
Os terríveis uivos de morrer.

Um dia ainda me irás ver,
Absolvida em pó
Queimada em memórias,
E irás reduzir todas as tábuas,
Para um dia aniquilares o meu caixão.

sábado, 27 de dezembro de 2008

-

De todos os nossos desejos
Apenas guardo um.
De todos os nossos segredos
Apenas vejo um.
E os nossos espartilhos,
Apertados ao meu corpo de seda
Marcam-te por todos os lados,
Com os lugares de buracos
E as linhas finas de todas as linhas do meu pequeno,
Bordar.
Será que te dói?
Toda a lama
Que te consome
Por mais uma noite
Imperdoável,
Cheia de canções de amor.
Dói?
E todas as nossas melodias,
Tocadas no teu piano de cauda.
Mordido pelas traças,
Com falta de lume por parte
De todos os nossos rostos
Iluminados pela luz,
Que sempre não obtiveram
Da noite escura
E clara ao mesmo tempo.
Mas não vai doer.
Não desta vez.
Agora sou eu
Que te quero ver morrer.

De uma colectânea "Lama", que tenho andando sem paciência para terminar.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Cinderela

Anda dançar a valsa comigo, Cinderela.
Criando as inspecções
De um dia te voltar a ver
Novamente.
E quando o bater
Da meia-noite tiver perto, Cinderela,
Deixar-me-ás sozinho, cravando-me o sapato no peito.
Mas as baladas avançam sobre mim,
Sucessivamente.
E irás deixar de ser minha, Cinderela.

Ah!
Dança comigo, e faz-me lembrar de novo,
As falsidades de todo o mundo,
E as garras da corte;
E todo o teu mel sorriso enfadado
Mostrando-me novamente
As unhas
E arranca-me o braço,
Enquanto danças comigo a valsa, Cinderela.
Não craves o teu sapato de cristal,
No meu coração aveludado
Borrifando os meus pesadelos
De eterna obscuridade.
De ti só brota,
brusquidão
E dos teus olhos o sangue percorre
Todo o teu pescoço nu
E desejo fazer infantilidades com ele.
Mas ai cair,
Faz o som monotonamente recriado,
Pelos teus lábios rosáceos,
Lança as bainhas para o ar,
Inundando-me o céu
De sombras indistintas,
Culminadas em pedaços de vidro nos teus olhos.

Cobre-me no teu vestido, Cinderela
Afaga-me as mágoas de viver.
Cobre-me no teu vestido, Cinderela
Aperta-me nos corpetes,
E deixa-me sufocar de prazer.

Oh Cinderela!
Cobre-me com as rendas do teu vestido,
E borda-me os lábios para nenhuma palavra de mim de escapar,
Todas as minhas lamúrias,
E choradeiras
Foram feitas á sua base e á tua semelhança.
Cinderela, não te deixo de amar.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Heathcliff

Oh Heathcliff!
Ando a morrer aos poucos sem a tua presença
Ando a perder-me em loucuras
E devaneios momentâneos
Com fervor, que estarás de volta depressa!
Oh Heathcliff!
Já passa da meia-noite
E estou ensopada
De não te ver…
Sabes como dói?
Se ao menos tivesses coração…!
Heathcliff!
Volta, estou a chamar-te
Não me ouves?!
Seu egoísta efémero
Monstro sem coração!
Volta para dentro de mim
Para dar descanso á paixão
Que me arde cá dentro!

Oh! Diz-me, diz-me!
Qual foi o meu erro no meu discurso?
Onde te toquei dolorosamente
Que te obriguei a fugir?
Não sei onde depositei o meu erro
Oh! Ajuda-me a mudar
Tenho um vazio defeituoso
Tu sabes a verdade…
É só a ti que eu quero!
Só tu me despertas as virtudes,
E os defeitos que abafo
No meu ser
Imperfeito como as marés de nevoeiro
Já alguma vez viste o mar brilhar?

Oh Heathcliff!
Volta depressa,
Estou a morrer aos poucos!
Sinto em cada veia que se esgota
Uma sede insaciável
Um bocado invisível
Que me falta agora,
Oh volta!
Sentada á lareira
Vejo mais uma labareda que se incendeia!

Inspirado na obra "Alto dos Vendavais" da grande Ellis Bell. (Emily Bronte).